No final dos anos 70, a central nuclear de Three Mile Island, no estado norte-americano da Pensilvânia, registou o pior incidente com energia atómica na história dos EUA. A fusão parcial de um dos dois reatores causou o pânico entre a população e as autoridades. Embora não tenham existido vítimas ou danos de maior, a situação levou a que se instalasse o ceticismo acerca dos riscos da produção deste tipo de energia – que se agravou substancialmente sete anos depois, com o acidente de Chernobyl, na antiga União Soviética.

Agora, as massivas necessidades de energia da Inteligência Artificial levaram a que a Microsoft assinasse um acordo durante 20 anos com a Constellation Energy para reativar o reator não danificado da central, que continuou em funcionamento até 2019, até ser encerrado definitivamente por falta de viabilidade económica. A reativação, que deverá estar concluída em 2028, custará 1,8 mil milhões de dólares à Constellation. Quando reabrir a central vai mudar de nome para Crane Clean Energy Center. Após o acordo, as ações da Constellation Energy dispararam mais de 20%.

O acordo permitirá à Microsoft expandir os seus planos para o desenvolvimento da Inteligência Artificial, alimentando as gigantescas necessidades de energia dos centros de dados da empresa. Embora existam ainda receios sobre a utilização da energia atómica, a modernização da tecnologia permite obter uma fonte energética ininterrupta e livre de emissões de carbono e que, paradoxalmente, ajuda a cumprir os objetivos climáticos.

Bobby Hollis, vice-presidente da Microsoft para a energia, disse que o acordo “é um importante marco nos esforços da Microsoft para descarbonizar a rede”. Já Joe Dominguez, CEO da Constellation, lembrou em comunicado que os centros de dados “requerem uma abundância de energia que é livre de carbono e as centrais nucleares são as únicas fontes de energia que podem cumprir essa promessa de forma consistente”. E afastou os receios sobre a central. “É o reator de melhor desempenho da nossa frota e sem dúvida o reator de melhor desempenho na América”, disse numa entrevista citada pelo WSJ.

Quando encerrou, o reator da central de Three Mile Island tinha licença de utilização até 2034. Agora, terá de passar pela obtenção de autorizações a nível local e estadual, além de aprovação pela Comissão de Regulação do Nuclear dos EUA, o que poderá ser um processo moroso. Contudo, a Microsoft espera que as prementes necessidades energéticas da IA possam agilizar o processo.

Esta não é primeira vez que a Microsoft recorre à energia nuclear. A gigante tecnológica já utiliza a energia da Constellation num centro de dados do estado da Virginia quando a energia renovável eólica e solar não está disponível e assinou um contrato para a energia de fusão, acreditando que estará disponível ainda nesta década.

A empresa fundada por Bill Gates não é a única tecnológica que está a procurar abastecer-se de energia nuclear para os seus projetos. A Amazon Web Services, a divisão da Amazon para a cloud, comprou em março um centro de dados que será alimentado pela central nuclear de Susquehanna, também na Pensilvânia. Já a Oracle anunciou recentemente que um novo centro de dados será abastecido por três reatores nucleares de dimensões mais reduzidas.