O número de imigrantes ilegais na Europa representa apenas 1% da população em 12 dos países estudados e manteve-se estável pelo menos desde 2008, apurou um estudo do projecto europeu MirreMque observa e mede os movimentos migratórios irregulares na região. Entre 2016 e 2023, a Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Países Baixos, Polónia, Espanha e Reino Unido terão acolhido entre 2,6 milhões e 3,2 milhões de imigrantes ilegais. Entre 2000 e 2008, a estimativa era de 1,8 milhões e 3,8 milhões de imigrantes em situação irregular nos mesmos países.
Os autores do relatório, publicado nesta quinta-feira e assinado por Denis Kierans e por Carlos Vargas-Silva, adianta que o número estimado de imigrantes irregulares nos últimos anos subiu na Áustria, Alemanha e Espanha; decresceu na Finlândia, Grécia, Irlanda, Países Baixos e Polônia; e permaneceu inalterado na Bélgica, França, Itália e Reino Unido. Essas conclusões foram obtidas comparando os dados mais recentes do MirreM (que dependem das informações enviadas pelas autoridades de cada país, algumas das quais não são atualizadas desde a década passada) e a contagem realizada pelo projeto Clandestino em 2008.
A Finlândia parece ser o país com a mais pequena população imigrante em situação ilegal entre os países considerados: serão entre 700 e 5000, tendo em conta os dados recolhidos em 2020, o que corresponde a apenas 0,1% da população residente. Os países com um maior número de imigrantes ilegais são o Reino Unido (594 mil a 745 mil pessoas) e a Alemanha (600 mil a 700 mil pessoas), mas os dados reportados já têm sete anos. A Grécia, que terá entre 100 mil e 200 mil imigrantes em situação ilegal, é o país com a maior percentagem de residentes em situação ilegal (0,9% a 1,9%), mas os dados já remontam a 2017.
Alguns países ficaram de fora dessa análise por não terem sido considerados no estudo realizado em 2008 — e esse foi o caso de Portugal. “Não nos é possível fornecer uma estimativa agregada atualizada para todos os países da UE e Reino Unido, como o projeto Clandestino fez em 2008”, assumiram os autores do estado. No entanto, os países que não foram considerados “contribuem de forma relativamente pequena para a população total e para o número de residentes nascidos em países não cobertos pelos protocolos de livre circulação”.
Mas alguns dados permitem levantar o véu ao que se passa por aqui: embora o número de imigrantes em situação irregular tenha duplicado entre 2017 e 2018tendo chegado perto dos 28,5 mil casos, o último relatório da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) dizia que desde 2019 que se tem detectado cada vez menos cidadãos estrangeiros em situação ilegal. Se em 2019 houve 4834 notificações para abandono voluntário do país, em 2020 (ano em que foi a validade dos documentos e visas foi prorrogado por decreto-lei) o número desceu para 2182. Em 2023 já eram apenas 658.
Em declarações à Agência Lusa, João Miguel Carvalho, investigador do ISCTE envolvido no projecto MirreM, considerou que a imigração ilegal em Portugal aumentou entre 2008 e 2024, sobretudo porque o ano de 2008 registou um declínio significativo de imigrantes devido à crise económica. No entanto, se comparados os dados mais recentes com outros ainda mais antigos, referentes a 2002, o número de imigrantes em situação irregular seria “semelhante ao que estamos vivendo hoje” graças ao ambiente econômico mais favorável — um dos maiores motores dos movimentos populacionais.