A defesa do ex-procurador Orlando Figueira considerou esta terça-feira que há várias questões pendentes que impedem a justiça de impor o cumprimento imediato da pena de prisão do ex-magistrado. E anunciou que vai contestar a prisão e pedir esclarecimentos urgentes.

“Desconhecemos a emissão de mandados. Iremos apresentar um requerimento a suscitar as questões pendentes e que aguardam decisão, como seja um recurso que está pendente sobre a aplicação da lei do perdão de penas, aquando da vinda do Papa Francisco a Portugal, e um incidente de nulidade por violação do princípio do juiz natural, entre outros. Todos aguardam resposta há meses”, disse a advogada Carla Marinho.

Segundo a mandatária, o recurso está pendente no Tribunal da Relação de Lisboa e o incidente de nulidade encontra-se na primeira instância. Antes de o mandado para cumprimento de pena ter sido confirmado por fonte judicial, a mandatária do antigo magistrado do Ministério Público mostrou-se surpreendida com a informação avançada inicialmente pelo jornal online Observador e alegou que existia “um recurso pendente”, considerando que “não há trânsito em julgado” da condenação.

Segundo fontes judiciais, o mandado de cumprimento de pena pedido pelo Ministério Público foi validado pela juíza Sofia Claudino, do juízo central criminal de Lisboa, estando os respectivos trâmites a serem executados. Uma dessas fontes garantiu também que o recurso pendente “não tem efeitos suspensivos”, pelo que não trava o início do cumprimento da pena.

A informação de que o antigo magistrado do Departamento Central e Investigação e Acção Penal (DCIAP) estava na iminência de ir para a cadeia foi avançada na segunda-feira à noite pelo Observadorque descreveu como os vários recursos e incidentes processuais suscitados pela defesa de Orlando Figueira conseguiram impedir, durante anos, que a condenação a seis anos e oito meses de prisão se efectivasse.

Orlando Figueira chegou a ir para o estabelecimento prisional de Évora (que acolhe reclusos que exerceram funções em forças de segurança ou pessoas que necessitam de especial protecção) em Fevereiro passado, tendo no entanto sido libertado três dias depoispor ter ainda pendente um recurso no Tribunal Constitucional.

Data de Dezembro de 2018 a sua condenação em primeira instância por corrupção, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documento, tendo sido dado como provado que recebeu mais de 760 mil euros do ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, em troca de favores nos processos que visavam o então governante angolano no DCIAP. A acusação do Ministério Público contra Manuel Vicente por corrupção activa, branqueamento de capitais e falsificação de documento foi enviada para as autoridades judiciárias de Angola, onde, volvidos anos, o caso conhecido em Portugal como Operação Fizz está ainda numa fase embrionária.