Os espetáculos esportivos se distinguem, entre outras características, pela paixão que geram nos torcedores. À intensidade emocional, que comporta desafios de segurança adicionais, somam-se, hoje, novos fatores de risco. No passado, a abordagem era mais simplista e centrada em casos de violência entre torcedores. Atualmente, as ameaças são diversificadas e complexas, obrigando a uma abordagem holística, que integre complementarmente diferentes áreas de intervenção.

O terrorismo tornou-se uma ameaça real em eventos desportivos que, pela visibilidade e mediatismo, são identificados como alvos fáceis. O rápido e constante desenvolvimento tecnológico traz novas ferramentas para garantir a segurança, mas também novos riscos. As actuais tensões geopolíticas transbordam para diferentes contextos, incluindo o desporto, contribuindo para o crescimento de expressões de intolerância e extremismo, ou para maior probabilidade de disrupção de um grande evento desportivo, com recurso a ciberataques.

Na última Conferência Safety & Security da UEFA, realizada em setembro deste ano, em Lausanne, destacou-se o aumento de algumas tipologias de incidentes nas competições europeias, nomeadamente o uso de artefatos pirotécnicos, as invasões do recinto desportivo e o discurso de ódio e intolerância através das redes sociais. Foram apresentadas evidências que sublinham o papel preponderante das redes sociais como fator de amplificação desses fenômenos.

Ainda no último sábado, no jogo Polônia x Portugal, um torcedor invadiu o gramado para conseguir uma foto com Cristiano Ronaldo, algo que aconteceu com muita frequência na última Euro2024. E se as intenções do infrator não forem tão “inocentes” quanto tirar uma selfie? Não podemos ser complacentes e devemos desenvolver esforços para uma aprendizagem e compartilhamento constantes, que permita atualizar conhecimentos e fortalecer redes colaborativas. Essa realidade exige estreita coordenação entre forças de segurança e organizadores de eventos, para garantir que as ameaças sejam neutralizadas e os riscos mitigados.

Com esse pano de fundo, foi realizada em 2023 a 1ª edição do S4Congress (Safety, Security and Service at Sports Events), organizado pela Autoridade de Prevenção e Combate à Violência no Esporte (APCVD). Este congresso se estabeleceu como uma plataforma internacional de debate. No ano passado o congresso teve um público de 1000 profissionais (metade online) vindos de 14 países. Foi palco do lançamento da versão portuguesa de um curso sobre segurança dos espetáculos desportivos, resultante da colaboração entre o Conselho da Europa, a APCVD e a Universidade de Liverpool, que conta, neste momento, com mais de 1500 formandos.

Este ano, o congresso volta a reunir em Viseu especialistas de renome, incluindo representantes de organizações internacionais como o Conselho da Europa, UEFA, FIFA, La Liga, Sports Ground Safety Authority, Football Supporters Europe, Federação Paulista de Futebol e International Centre for Sport Segurança (ICSS). A primeira edição do Congresso foi marcada pela entrevista com o saudoso professor José Manuel Constantino, ex-Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, que nos deixou um importante legado. Neste ano, a entrevista de encerramento terá como protagonista o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes.

Eleita “Cidade Europeia do Esporte 2024”, Viseu também sediará em outubro, em evento paralelo ao congresso, a reunião da Diretoria do Comitê de Segurança de Eventos Esportivos, do Conselho da Europa. Com a crescente complexidade das ameaças, esses eventos representam uma oportunidade para discutir desafios emergentes e compartilhar soluções inovadoras, essenciais para proteger o esporte como espaço de união, tolerância e respeito.