Portugal não tem deixado os seus créditos por mãos alheias. O calendário deste grupo E parece feito à medida da equipa de Jorge Braz. Oitavos de final já estão garantidos, segue-se a luta pelo primeiro lugar com arrojada e criativa seleção de Marrocos
TAREFAS — Campeão do mundo é campeão do mundo. A estrela no equipamento permite recordar a glória, mas quem o veste sabe que, para duplicar o símbolo, há um longo caminho a percorrer.
Portugal tem, pelo seu lado, a tradição, a história, mas também a qualidade intrínseca do seu coletivo e de cada um dos seus jogadores. Sendo na quadra, em apenas 40 minutos, que os méritos têm de ser provados, a equipa das quinas preparou ao pormenor a deslocação à longínqua Ásia Central. Muitos treinos, muitas horas de convivência e de partilha.
Aqui chegados, na hora de jogar, os comandados de Jorge Braz não têm deixado os seus créditos por balizas alheias, apesar da exiguidade do triunfo (3-2) sobre um Tajiquistão muito interessante, mas inferior à Seleção Nacional.
UM democracia geográfica (e ainda bem que assim é…) permite algumas discrepâncias. Permite, por exemplo, que a fragilidade do Panamá seja amiga de um Portugal à procura do melhor ritmo. Com muito mérito para a equipa de Jorge Braz: dominadora, avassaladora mesmo na primeira parte, a construir um resultado robusto que fez lembrar o Mundial da Colômbia, há oito anos.
Décima edição do Campeonato do Mundo começa este sábado e termina no próximo dia 6 de outubro; Portugal procura revalidar título conquistado em 2021
Mas também permite o emergir de novas nações no panorama do futsal mundial, como a sensacional equipa do Tajiquistão, com uma excelente qualificação e com características nucleares essenciais para a alta competição. Muito focada, forte nas marcações individuais, escorreita e vertical no contra-ataque, tentando um jogo posicional que lhe garanta vantagens assim que recuperar a bola.
Portanto, mais um excelente (e muito distinto…) teste para Portugal, que terá percebido a necessidade de saber sofrer em determinados momentos do jogo. Aliás, o calendário deste grupo E parece feito à medida do combinado nacional. Em crescendo, obrigando a leituras e posicionamentos táticos e estratégicos distintos, com a capacidade de ler o jogo a cada momento e de perceber os problemas que cada adversário lhe pode colocar.
Decerto que Marrocos será ainda mais complexo. Uma equipa dominadora no seu continente, divertida, aguerrida, arrojada, criativa. Os magrebinos transportam para a quadra a imprevisibilidade que resulta da sua própria génese: um povo aventureiro, habituado à inclemência do deserto que marca uma boa parte da geografia do país, resiliente e persistente. Chegam ao terceiro jogo com a possibilidade de ganhar o grupo, tal como havia sucedido há três anos, na Lituânia. Se não há jogos iguais, há desafios muito parecidos.
E o que perpassa do discurso e da prática da Seleção Nacional é uma quase indomável vontade de vencer e de ultrapassar obstáculos. O primeiro grande objetivo, qualificação para os oitavos de final, está garantido.
O segundo, vencer o grupo, depende apenas da capacidade de ser fiel a si própria, ao seu estilo de jogo e ao respeito absoluto pelas qualidades e atributos da equipa opositora.
Patrão da digestão há duas décadas
TAREFAS — Uma história com 23 anos. Luís Patrão cuida da digestão das seleções nacionais há mais de duas décadas, gerindo também o Salgábocarestaurante na Praia de Mira que tem o peixe como elemento essencial da ementa.
São muitos anos com as equipas da FPF, e quase sempre acompanhado de bacalhau na bagagem. É quase uma norma… porém, no caso do Uzbequistão, o fiel amigo não viajou na bagagem da comitiva portuguesa, porque «havia entraves na fronteira». Mas o chef é o primeiro a reconhecer que «faz falta, sempre», porque é uma das formas de a comitiva ter o «nosso peixe para consumo».
Em Tashkent, no interior do uzbeque, o peixe disponível é «o do rio, a truta, e um peixe branco parecido com a carpa». Patrão, profissional experiente, sabe como trabalhar estas espécies e reconhece que os atletas pretendem, sobretudo, a «comida caseira, a que comem feita nas suas próprias casas, pelas esposas, pelas mães, às vezes até pelas avós».
Toda a planificação das refeições dos jogadores é feita em Lisboa com o nutricionista da FPF, havendo depois um «encontro» com a realidade local, uma vez que a realidade, por vezes, é distinta da previsão inicial, integrando também o médico da comitiva no processo.
Uma refeição habitual da Seleção de futsal integra «proteínas, uma variedade de peixe e outra de carne, e os jogadores são livres de escolher o que querem, nas quantidades que pretendem», adianta Luís Patrão, que recorda «tempos bons». «No caso do futsal, tenho visto os jogadores a crescerem.» O responsável pela cozinha portuguesa em grandes competições internacionais está há 15 anos com a modalidade, pelo que acompanhou as diversas fases de evolução da grande maioria dos 14 jogadores convocados por Jorge Braz para o Mundial do Uzbequistão.
E, ao longo de mais de duas décadas, o chef português não tem dúvidas ao eleger o ingrediente que mais utiliza na confeção das refeições: «o azeite», que deste vez não veio de Portugal. «Nós temos aqui bom azeite», atalha Patrão.
Pode faltar o bacalhau, não falta o azeite e, pelas refeições, não faltará decerto moral a Portugal para conquistar este Mundial. Se isso acontecer, também o chef Luís Patrão se sagrará, muito justamente, bicampeão do mundo de futsal.
Vitória (3-2) sobre o Tajiquistão garante a passagem à próxima fase da competição; jogo com Marrocos, este domingo, irá decidir o vencedor do Grupo E
Tashkent, luzes e sorrisos
TAREFAS — São mais de dois milhões e meio de habitantes, no interior leste de um imenso território na Ásia Central.
Tashkent é uma capital que mistura na perfeição a arquitetura austera e monumental herdada da antiga União Soviética com a modernidade de avenidas largas, arranha-céus com gigantes ecrãs de LED, parque automóvel muito recente e viaturas de luxo a preços muito acessíveis.
A cada esquina surpreende-nos com mais um edifício de respeitável dimensão. Seja o Parlamento, seja o Palácio Presidencial, seja o Monumento aos Trabalhadores, seja uma estátua aos heróis da nação, seja uma gigantesca bandeira uzbeque içada num mastro de 30 metros de altura.
O mais interessante na exploração da cidade é a capacidade de surpreender que ela revela, sobretudo à noite. A Magic City é apenas um exemplo de um parque de diversões recetivo a famílias, onde os restaurantes de comida tradicional ombreiam com as cadeias de comida rápida norte-americanas ou com a cozinha italiana, mexicana ou espanhola.
Tashkent veste-se para que ninguém se sinta longe do mundo, apesar de estarmos a 600 quilómetros da China e a 300 do Quirguistão. E constrói-se, sobretudo, com as pessoas, os e as uzbeques que podem não falar uma palavra de inglês, que podem apenas dominar a sua língua materna ou o russo, mas que são especialistas numa linguagem muito mais universal, abrangente e cativante: o sorriso, o tal que, no momento certo, vale por mil palavras e aperta dez mil mãos.