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Um testemunho sobre vaginismo. A dor invisível que afeta a sexualidade feminina – Wellness

O vaginismo é uma disfunção sexual feminina que muitas vezes permanece nas sombras, não só pela dor que causa, mas também pela carga emocional que impõe às mulheres que o vivem. Trata-se de uma condição em que os músculos do pavimento pélvico se contraem involuntariamente, tornando a penetração, quer sexual, quer em contextos médicos, dolorosa ou mesmo impossível. Como explica Isabel Hermenegildo, especialista em Ginecoestética, à Máxima“o vaginismo pode manifestar-se de várias formas, desde mulheres que conseguem realizar exames ginecológicos, mas não conseguem ter relações sexuais, até casos em que a penetração é completamente impossível, mantendo algumas mulheres virgens durante anos.”

A dor associada ao vaginismo é frequentemente descrita como uma sensação de “faca” e surge, na maioria das vezes, sem aviso prévio. Ana (nome fictício), de 23 anos, partilha a sua experiência: “Iniciei a minha vida sexual aos 18 anos e sentia dor na tentativa de penetração, como uma faca, que associava à ‘primeira vez’. Após várias tentativas frustradas, comecei a evitar o momento de intimidade com o meu namorado, uma situação que gerava frustração para ambos.” Esta sensação de impotência é comum entre as mulheres que sofrem de vaginismo, especialmente quando as causas físicas não são identificadas.



Embora as causas exatas do vaginismo ainda não sejam completamente compreendidas, Isabel Hermenegildo destaca o papel crucial que fatores psicológicos podem desempenhar. “A parte psicológica pode interferir bastante, principalmente em mulheres que tenham traumas do passado, como violência doméstica, abusos ou violação.” No caso de Ana, apesar de uma educação sexual adequada, o peso das expectativas familiares sobre a sexualidade e a gravidez também acabou por influenciar a sua vivência da intimidade. “No meu ambiente familiar, as conversas sobre sexo eram inexistentes, apenas alertas de como uma gravidez na adolescência seria destruidora”, explica, salientando o impacto das palavras e das crenças familiares na sua relação com a sexualidade.

O tratamento do vaginismo exige uma abordagem multidisciplinar. Médicos ginecologistas, fisioterapeutas especializados na saúde pélvica e psicólogos desempenham papéis essenciais. Isabel Hermenegildo sublinha que “o exame pélvico precisa de ser conduzido com o maior cuidado e delicadeza”, sendo que a intervenção de profissionais especializados na sexualidade feminina, bem como o apoio do parceiro, são determinantes. “O parceiro ou parceira da mulher também tem um papel fundamental no apoio à sua companheira, pois a mulher com vaginismo muitas vezes sente-se culpada por a relação sexual não acontecer de forma normal.


Nos últimos anos, surgiram tratamentos inovadores para o vaginismooferecendo novas esperanças para as mulheres que convivem com esta condição. Entre os mais promissores estão a aplicação de PRP (plasma rico em plaquetas), Botox, carboxiterapia e ondas de choque. “Estes tratamentos são minimamente invasivos e têm apresentado resultados muito eficazes”, garante Isabel Hermenegildo. No entanto, o tratamento psicológico continua a ser um pilar fundamental na recuperação. “Após consultar uma ginecologista e confirmar que, fisicamente, estava tudo bem, o meu psicólogo ajudou-me a lidar com as questões emocionais associadas ao vaginismo”, partilha Ana, que começou a notar melhorias gradualmente, depois de trabalhar a ansiedade e os medos associados à intimidade.

A jornada para superar o vaginismo é, muitas vezes, longa e desafiante, tanto para a mulher como para o casal. Para Ana, a chave tem sido a paciência e a compreensão mútua. “Hoje, com a mesma relação, mas mais madura, continuamos no caminho para superá-lo e chegar ao dia em que este momento especial será unicamente prazeroso.” A sua história é um exemplo claro de que, com apoio e tratamento adequado, é possível avançar na luta contra o vaginismo.

O vaginismo, embora debilitante, não é uma condição sem solução. A sua compreensão e aceitação, tanto pela mulher como pelo parceiro/a, bem como a busca de ajuda médica e psicológica, são passos fundamentais para recuperar o controlo da vida sexual. Como sublinha Isabel Hermenegildo, “o problema não se restringe apenas ao âmbito da vagina da mulher. Envolve também o seu bem-estar emocional e a dinâmica da relação.” Com o avanço das terapias e tratamentos, cada vez mais mulheres podem encontrar alívio e recuperar a sua autonomia sexual.



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